Viagem a Marrocos
Pelo sexto ano consecutivo, a Associação Beselguense organizou mais uma viagem, desta vez ao Reino de Marrocos, de 37 milhões de pessoas e uma área 5 vezes a de Portugal continental. Esgotadas as 45 inscrições disponíveis, saímos no dia 18 de julho para uma aventura de 9 dias. Como primeira ideia a transmitir, só podemos dizer: esqueçam todas as ideias pré-concebidas que possam ter. Na realidade, fomos encontrar um país muito mais extraordinário do que imaginávamos, interessante e diferente, quer nas unidades hoteleiras, quer nas ruas, quer nos simples vendedores que nos davam lições de vida. No final, fica a opinião, partilhada por todos, de que esta foi a viagem mais fantástica que fizemos até hoje.
1º dia. Saídos da Beselga, rumámos ao aeroporto de Lisboa. Depois das formalidades habituais embarcámos na Royal Air Maroc (TAP nunca mais!) rumo a Casablanca, apenas a 594 kms de Lisboa, a 1 hora e pouco de avião. Chegados, deparámo-nos com uma verdadeira multidão que também ela chegava vinda de Meca, da habitual peregrinação muçulmana. Depois da interminável burocracia lá seguimos para a cidade de Casablanca a cerca de 30 kms do aeroporto. Casablanca, capital económica de Marrocos com os seus 5 milhões de habitantes é uma enorme cidade onde a tradição se entrelaça com o modernismo. Do alto do nosso hotel de 28 andares, víamos as luzes da cidade que à noite parecia despertar para a vida mundana. Nas ruas, as mulheres com os seus lenços na cabeça e os seus ricos trajes tradicionais, misturavam-se com as jovens de jeans e t-shirts modernas. A tradição muçulmana convivia pacificamente, lado a lado, com as “modernices” ocidentais. Eram as roupas, eram as lojas tradicionais a par das ocidentais lojas de fast food, eram as boutiques de marcas internacionais a par das tradicionais esplanadas onde se tomava o eterno chá de hortelã. E sempre, o ameno convívio e respeito entre todos, como se sempre tivesse sido assim.
2º dia. Pela manhã, visita à mesquita de Hassan II situada junto à beira-mar, frente ao Atlântico. Extraordinário templo construído no reinado do pai do atual monarca, com capacidade para 125 mil crentes – 6 anos de construção, 700 milhões de dólares, 15 mil trabalhadores, dia e noite, para erigir a maior mesquita de Marrocos e a 3ª maior do mundo. Por todo o lado, a mestria dos artesãos, bem visível nos tetos de estuque e gesso trabalhados, nos mármores e granitos coloridos, nas inúmeras aplicações de madeira de cedro do 1º andar, local de culto das mulheres. Na cave, a zona de ablução para cumprir os preceitos de higiene, noutra cave, a reconstituição de umas antigas termas romanas com a piscina subterrânea, no exterior, o maior minarete de Marrocos, a riqueza da decoração em todos os pormenores e nas suas portas de titânio. Seguimos o nosso percurso percorrendo avenidas e praças, até chegarmos à “marginal” junto à praia: restaurantes, esplanadas, piscinas junto ao mar, escolas de surf e inúmeras atrações para aqueles que podem delas usufruir. Almoçados num hotel junto ao mar, seguimos para a capital administrativa do país – Rabat com cerca de 2 milhões de habitantes. À entrada da cidade, visita aos jardins e espaços exteriores do palácio real, local reservado praticamente só para turistas onde pudemos constatar mais algumas realidades deste país. Seguimos até ao centro da cidade, passando pela zona dos vários ministérios até chegarmos à imensa praça onde se situa o mausoléu de Mohamed II, espaço de romaria local. Instalados no hotel, depois do jantar, saída para conhecer a vida noturna da cidade num espaço junto ao rio, um misto de esplanada gigante, de vendedores ambulantes e feira popular. E mais uma vez o pacífico convívio entre os muito religiosos e as suas vestes, os moderados e os não praticantes.
3º dia. Saídos de Rabat, seguimos em direção a Meknés, capital agrícola de Marrocos situada numa zona fértil. Cidade reconstruída por Bab Mansour, o monarca que derrotou os portugueses no século XVI e que estabilizou a região durante décadas num pacífico convívio com os judeus. Visita panorâmica da cidade e dos seus principais locais: mausoléu de Moulay Ismail, zona histórica, muralha tripla com mais de 40 kms, porta principal, o imenso tanque /lago para irrigação dos jardins do palácio. Almoço em Meknés. De tarde, na estrada para Fez, visita da antiga cidade romana de Volubilis do século III, situada num imenso vale fértil e cujas ruínas foram seriamente danificadas pelo também “nosso” terramoto de 1755. Seguimos viagem e ao fim da tarde, Fez, capital espiritual e dos artesãos, a 1ª cidade imperial com 12 séculos de história, fundada pela 1ª dinastia dos descendentes dos árabes após vitória sobre os berberes. Instalados e jantados no hotel, à noite, tempo ainda para conhecer alguns pontos da cidade e dado o calor, para um mergulho na piscina.
4º dia. Visita de Fez, cidade com 1 milhão e 900 mil habitantes, 3ª cidade de Marrocos, cidade dos odores e dos sabores, património da UNESCO, situada num vasto vale irrigado pelas águas do médio atlas, local de vivência durante séculos de berberes, judeus, cristãos e muçulmanos. Visita da sua velha medina, a maior de Marrocos, espaço onde habitam 300 mil pessoas nas suas 9.400 ruas, 1.600 sem saída, autêntico labirinto para um estranho: vista do palácio real, lojas tradicionais, mausoléu de Moulay Idriss, medrassa/escola corânica e 1ª universidade do mundo do ano de 859, e claro, os tradicionais curtumes com o seu cheiro nauseabundo. Almoço na medina num antigo palácio e de tarde, visita a uma tradicional fábrica de artigos de barro e de artefactos de azulejo. No final, visita à parte nova da cidade e regresso ao hotel para usufruir das suas piscinas.
5º dia. Saída de Fez em direção às montanhas do Atlas – um Marrocos diferente. Da terra seca, árida e desértica passámos para os bosques de cedros, plátanos, pinheiros, sobreiros. Plantações de vinhas, milhares de oliveiras e represas de água avistavam-se na nossa subida do médio Atlas. Finalmente vêem-se casas com telhados, já que a chuva e a neve por aqui andam. Chegamos a Ifrane, a pequena Suíça marroquina criada em 1929 pelos franceses, bem organizada, com a sua universidade privada, jardins, relvados e estação de sky. Subimos e descemos o médio Atlas em direção a Midelt, com os seus pomares de maçãs e almoçamos à entrada da cidade. Após o almoço, atravessamos a região que nos separa do alto Atlas e a paisagem muda novamente. São os inúmeros riachos que quase secos tentam chegar a qualquer lado, no meio de uma paisagem desértica onde as casas feitas de adobe nos surgem esporadicamente no meio da paisagem. Subimos novamente, desta vez para transpor o alto Atlas numa estrada que serpenteia entre uma vegetação que tenta sobreviver e uns quantos milhares de árvores plantadas “à força” para tentar amenizar tanta desolação. Surgem barragens, ouvimos que serão cerca de 60 as que se pretendem construir – é que a água é o bem mais precioso para estes lados. Tão precioso que no meio do nada nos surge uma imensidão vede. Um extenso vale onde mais de um milhão de palmeiras tamareiras dão sustento a numerosas famílias que entre si dividem essa riqueza. E o deserto de terra batida e pequenas pedras prossegue. Chegamos finalmente a Erfoud, à beira do deserto. Hotel fantástico, construído em parte com adobe, como que saído de um filme. Tempo para nos arranjarmos para a restante aventura do dia, a ida ao deserto. Os veículos 4X4 esperavam por nós, mais alguns quilómetros de alcatrão e por fim, o deserto, as dunas de Merzouga, o passeio de camelo, o jantar em pleno deserto e mais tarde, já tarde, o regresso ao hotel. Dia fantástico e interminável, noite dentro, junto à piscina, uns apreciavam o momento, outros, a piscina.
6º dia. Saídos do hoteleainda em Erfoud, visita a uma pequena fábrica/oficina de corte e polimento de pedras, não pedras vulgares, mas sim com inúmeros fósseis no seu interior. É que há 300 milhões de anos o mar cobriu aquela região e os animais marinhos de então ficaram para sempre “guardados” naqueles sedimentos. Breve lição de história natural. Seguimos a nossa viagem mais para sul até à cidade de Tineghir. Breve paragem numa tradicional loja de tapetes onde apreciámos os vários tipos de tapetes feitos com os mais diversos materiais. Mais à frente, breves paragens para apreciarmos a paisagem, ainda e sempre o deslumbre, como que no meio do nada, o milagre da água, a sua vegetação e o aparecimento de povoações. E mais um momento fascinante – as Gargantas do rio Todra – fantástico fenómeno da natureza, onde no fundo de uma” garganta” cujos lados atingem por vezes mais de 300 metros de altura, corre um rio límpido e fresco, proporcionando agradáveis momentos de lazer e de deslumbre. Retomamos a estrada, o almoço mais adiante e novamente a estrada, o deserto, as palmeiras, as povoações com as suas casas construídas mas fechadas e desertas. Tal como aqui, os milhares de emigrantes que sonham voltar para a sua casa, construída, mas habitada apenas uma vez por ano. Chegamos por fim à cidade Porta do Deserto, Ouarzazate e ao nosso hotel, com o jantar servido à beira da piscina. Depois do jantar, passeio pelas ruas da cidade e o seu comércio que à noite parece renascer, e sempre, a amabilidade das pessoas.
7º dia. Visita ao kasbah de Taourirt, antiga residência do Paxá de Ouarzazate do século XVII, com a sua construção em adobe e os seus inúmeros pormenores, quer decorativos quer de funcionamento – explicação das tradições, usos e costumes locais. Já à saída da cidade, passagem pelos vários estúdios cinematográficos e cenários que se avistam da estrada – é que a região de Ouarzazate, desde os anos 40 serve de palco para a rodagem de inúmeros filmes. Chegada à aldeia berbere de Ait Ben Haddou toda construída em adobe e património classificado pela UNESCO. Logo no início da visita quase que servíamos de figurantes para a rodagem de um filme indiano que estava a ser rodado naquele local. Resolvido o problema “logístico”, prosseguimos a visita deste local, excecionalmente preservado com a utilização de materiais de construção tradicionais. Almoço neste local. De tarde, novamente a travessia do alto Atlas até atingirmos a altitude de 2260 metros – paisagens fantásticas, vales por vezes verdejantes, desfiladeiros abruptos, ravinas de “cortar a respiração”, plantações de pinheiros. Na descida, a paisagem muda, é o som das cigarras, é a vegetação mais densa, é a terra que muda gradualmente de cor para se tornar avermelhada. É finalmente a chegada a Marraquexe, cidade fortemente ocidentalizada com o seu Boulevard Mohamed VI de 6 quilómetros de extensão, local de eleição dos inúmeros hotéis, restaurantes, salas de espetáculo e da imponente Gare de Marraquexe. Instalados no melhor hotel de todo o percurso, repartíamo-nos entre ficar à beira da piscina a escutar a música ao vivo, ou passearmos pelas largas avenidas.
8º dia. Visita de Marraquexe, começando pelos jardins e espaço exterior da mesquita da Koutobia do século XII e do seu minarete. Entrada na medina e visita aos túmulos Saadianos e ao Ryade /jardim/palácio do vizir de Marraquexe do século XVII e aos seus inúmeros espaços de lazer. Passagem pelos souks tradicionais de comércio local e pela célebre Praça Jema El Fna, património oral da humanidade, local mítico de Marraquexe. Almoço na medina. Após o almoço, visita a uma farmácia/ervanária tradicional de produtos naturais e do famoso óleo de argão. Resto da tarde livre para as últimas compras nas inúmeras lojas, onde tudo se regateia. Regresso ao hotel e à hora do jantar, saída para o restaurante Chez Ali. Um enorme empreendimento turístico com capacidade para centenas de pessoas, onde a refeição é o pretexto para se assistir a um espetáculo fabuloso: a entrada do recinto, a apresentação dos vários grupos, o espaço em si, o local da refeição, as músicas, o espetáculo no picadeiro central e o fogo-de-artifício final que a todos encantou. Este jantar foi sem dúvida a chave de ouro com que concluímos a nossa viagem pelo reino de Marrocos.
9º dia. E como tudo o que é bom termina, eis-nos de regresso. Saímos de Marraquexe de avião, fizemos escala em Casablanca e aterrámos na Portela. Chegados a Lisboa à hora de almoço, o restaurante esperava por nós. Depois da refeição ainda houve tempo para uma visita ao MUDE (Museu do Design) na rua Augusta, na Baixa Pombalina. Finalmente, ao fim da tarde regressámos à Beselga, com muitas histórias para contar e recordar. E muitas mais houve, pois como dizia Santo Agostinho: “O mundo é um imenso livro do qual, aqueles que nunca saem de casa, leem apenas uma página”.
Depois desta viagem, podemos já anunciar as viagens para o próximo ano de 2016. Nos dias 10, 11 e 12 de junho, sexta, sábado e domingo e aproveitando o feriado do 10 de junho, iremos visitar o sul de Espanha, as cidades de Córdoba e Granada, conhecer o deslumbre da civilização árabe. Na última semana de julho, iremos até aos Açores, durante 5 dias, visitar as ilhas Terceira e São Miguel. Como por norma as nossas viagens esgotam, reservem os vossos lugares com antecedência – Luís Figueiredo 962347552 e Eugénio Proença 966663452.